"Sei meditar, sei jejuar, sei esperar (Hesse)

sábado, 1 de março de 2008

hai cai



Sem rodeios
imagino o céu
eu e você no meio


Apago a luz do quarto
Fico na escuridão
Seus olhos me iluminam então

...




nem tudo está perdido
e o que foi perdido,
jamais aqui estivera,
aquilo que descobri,
comigo sempre estará...
Se for perdido, não era descoberta.

Caravana



Lá vem a caravana
com seus animais e acrobatas
as tochas de alegrias
as acrobacias com tristeza
a dor em uma corda de aço
tentando se equilibrar com
a destreza da solidão
enquanto a caravana
monta seu circo,
seus personagens passeiam pela cidade
distribuindo sonhos
contabilizando ilusões

minha alma presa no picadeiro
escondida na lágrima do pierrô
corre... corre... em voltas.


espera pelo final do espetáculo

Insensatez







É madrugada
Enquanto o mundo gira
Atravesso a estrada da sorte
Meus passos ecoam
Pelo silêncio da noite maldita,
Minha sombra se confunde com outras sombras
Meus suspiros são sinais de insatisfação
A lembrança dos “ais” mal resolvidos
São só lembranças que se dissolvem
Na dor e na paixão
Uma garrafa de vinho em minha mão
Uma taça
Transbordando de desespero minha boca,
Aperto a taça contra o peito
Estilhaçando-a contra o meu
Duro coração.
Não sei se o que bebo é sangue ou vinho
Se essa embriagez
É do álcool ou da dor
Me jogo sobre a calçada,
Os olhos turvos não enxergam
A mente insana delira
O que fiz da minha vida?
O que resta a ser vivida?
Amanheço com a manhã
Que vem surgindo,
Pego a minha garrafa
E meu duro coração,
Já é dia
E enquanto o mundo gira
Vou voltando pela estrada da sorte...

Para meu amor



Suponho que serei feliz um dia.
Suponho

Não tenho a certeza de dias felizes

Tenho os planos

A dúvida que carrego não é negativa
por vezes sinto-me tentada a acreditar
que tudo será um mar de rosas
Apenas suponho

Suposições à parte

Sento-me no banco
Na varanda da minha casa

Não sinto nada
Além de suposições

Supus algum tempo atrás
Traí minha suposição
Acreditando nela

Não deu-se o esperado
Também
Supus errado.

O que é o ser humano II






O que é o ser humano? E sim, realmente uma pergunta difícil de responder. A indagação leva a reflexão, por isso, mesmo que saibamos que a resposta é demorada (quando não impossível de se encontrar), devemos nos questionar sempre.
Questionar-se e refletir sobre si mesmo é o maior ato de humildade do ser humano. Julgamos melhor, quando sabemos julgar a nós mesmos. Não digo julgar, no sentido de decidir se está certo ou errado, punindo ou não, mas no sentido de conhecer e se ver como em um espelho.
O fato não é tentarmos compreender o outro. Compreender a si mesmo é o mais importante. Naturalmente estamos fadados a este tipo de interpretação, pois só vemos o outro. Não enxergamos a nós mesmos. Tentamos entender os porquês de atitudes alheias, os porquês de tais medos, anseios e sonhos. Porém, a alma humana é semelhante. Entender a si mesmo já é o bastante.

A liberdade é azul



Trois colleurs: bleau

“... é preciso agarrar-se a algo...”

Liberdade – Faculdade de cada um se decidir ou agir ou agir segundo a sua própria determinação. 2. Estado ou condição do homem livre. 3. Confiança, intimidade (às vezes abusiva).

Livre – Que não está sujeito a algum senhor. 2. Que não está, ou já não está, prisioneiro, solto. 3. Desprendido, solto. 4. Que age pro si mesmo, independente. 5. Que goza dos seus direitos civis e políticos. . cujo funcionamento sem coerção ou discriminação é garantido por lei. 7. Permitido, autorizado. 8. Isento. 9. Disponível, desocupado. 10. Desimpedido, desembaraçado. 11. Que não está casado. 12. Desregrado, licenciosos. 13. Sem limites; imenso.
(Dicionário Aurélio)


A idéia de LIBERDADE por vezes nos toma, e está presente em nossos discursos cotidianos. Mas será que tal conceito poderia ser tomado como uma ação, ou essa suposta ação estaria relegada ao plano das idéias?
Liberdade sempre gira em torno da escravidão, pessoas que não possuem o direito sobre suas próprias vidas. Elas sonham com a LIBERDADE. A escravidão foi abolida. Não existem mais escravos em nosso mundo. Não existem?
Ao nascermos mantemos um vínculo com o mundo de forma que nossa liberdade, desde este instante, já nos é privada. O conceito de liberdade cai por terra desde ali. Dificilmente nos desprenderemos de objetos, pessoas, recordações, que nos fazem presos um ao outro.
O vínculo carrega em si uma espécie de prisão, em que já não somos donos de nós mesmos, nem agimos “segundo nossa própria determinação”, pois sempre o outro “o vínculo”, está ali em diversas relações: filial, maternal, paternal, profissional, sentimental. Sempre temos algo que “poda” nosso conceito de Liberdade. Esse vínculo é necessário à nossa sobrevivência, “... é preciso agarrar-se a algo...”, para termos segurança, para sermos completos temos que achar nossa cara-metade. È essa a idéia que compramos e a qual mantemos até hoje.
Desta maneira a liberdade é uma utopia, pois estamos desde nosso primeiro sopro de vida dependendo de algo ou de alguma coisa.





Qual a razão para tudo isso?
Para que mexer nas minhas coisas
Procurando o quê?
Você não vai encontrar o que se perdeu
Nem o que você quebrou.

Algumas coisas não tem conserto
Alguns sentimentos, mesmo perdoados
Não são os mesmos.
Trazem em si a cólera dissipada
O rancor pisado
A mágoa.

Tudo é aparente
Você vê, eu vejo.
Onde está a discussão, a solução do problema?

Entrelinhas do acaso,
Não adianta se esconder
Nessa brincadeira, vamos ser pegos
E não adianta tentar escapar do que não tem
Escapatória.

A única razão para isto
É a falta de razão.

Truco






Jogo de malandro. O truco é um dos jogos mais fantásticos que já presenciei. Os fanáticos que me desculpem, mas o truco é um jogo engraçado e divertido e não deve ser levado tão a sério. De uma bagunça imensa transforma qualquer reunião familiar ou qualquer encontro de amigos numa confusão descabida.
Aprendi esse jogo em uma noite e acredito que nunca mais deixarei de jogá-lo. Meus amigos pacientemente me ensinaram a técnica, porém a malandragem deve ser inata. Toques, sinais, percepção... Tudo à flor da pele. É um jogo de comunicação visual e de atordoamento oral. Ganha quem leva mais no grito, quem leva mais na cara de pau.
Meus parceiros me aceitaram (ou tiveram que aceitar, já que não havia outra opção) no grupo. Nunca na vida encontrarão uma parceira como eu. Nunca. Nunca encontrarão uma parceira que truca na mão de onze. Sério. Cometi um erro mortal, mas quem nunca cometeu um erro assim na vida?
Percebi que a vida é um grandioso jogo de truco. Analisei isso aquela noite enquanto jogávamos. A vida deve ser levada à sério? Devemos arriscar as jogadas mais toscas?
Às vezes, por medo, perdemos o zap. Sem medo de perder trucamos o jogo com um quatro de ouros. Descartamos nossa melhor carta para o amigo finalizar, descartamos nossa melhor carta para confundir o adversário.
Quando em nossas vidas medíocres arriscamos nossas cartas inferiores? Eu não me atreveria.
Analogamente, a vida é um jogo. Tentarei vivê-la como um grande jogo de truco: Meus amigos, parceiros de jogo, darão as coordenadas e, quem dará as cartas? Meus adversários. Sempre eles nos dão as cartas. Observá-los é um ponto muito importante, analisá-los, saber a hora do blefe, saber quando se diz a verdade. Não fuja dos adversários.
Perceba. No jogo você nunca está do lado do parceiro e sim do adversário. Preste atenção. Não tenha medo de trucar, de retrucar, de pedir doze.Lembre-se sempre que a última partida é no escuro e de olhos fechados.