E a oficina passou como todas as outras. Os poucos alunos que sobreviveram à fanzine já não se falam por e-mail. Quase nunca se falavam mesmo. O nosso professor sumiu. Ele está com o meu livro. Eu estou com o DVD dele. Decidi que vou deixar que ele fique com o meu livro dos abraços, esperava que ele dissesse: “Ok, fique com o meu DVD”. Porém, ele não se manifestou a esse respeito, como eu já disse, ele sumiu (acredito que tenha sido abduzido).
As primeiras, segundas e outras linhas já se foram também. Dona Maricota continua a cortar suas folhas e o Alexandre com sua pá a desenterrar Andersen. Na terra desse coveiro os vaga-lumes se apaixonam pelas lamparinas e até tomates são socialmente ativos.
Dona Nena debruça-se todos os dias contemplando o mar do 88° do prédio branco. Os relógios que resolveram sumir voltaram ao lugar de costume, e assim a antropomorfização se fez. Todos os comentários medíocres do tipo “achei legal” continuarão a sair, a princípio, da minha boca. Agora trata-se mais de um mantra (uma quase pseudo religião do “achei legal”) do que medo em criticar.
Dayane, que nunca responde ao grupo, escreve em seu blog, e os textos se atiram nus pela janela (efeito do ayuasca). Marcos continua a escrever seu livro, a atender os pacientes, impacientes e doentes, gostar de rock e Edgar Alan Poe. Ironides, sensato, e suas histórias recheadas de finais surpreendentes, nos espreitam, aguardando o momento exato de atirar-nos origamis inflamados. Sônia, pelo estilo, desfila através de palavras seus morenos sensuais aos olhos de carrancas. Ângela e Eli nos assistem, às vezes passivas, por vezes inflamadas, questão de pontos de vista e, como disse Rosa, “pão ou pães é questão de opiniães”.
A novela mexicana e as vozes do Thiago e do Marcos ainda não saem da minha mente. Tudo isso se passou e é verdade, tudo isso aconteceu, acontece e acontecerá, quiçá, em algum lugar entre os vivos, quiçá, em algum lugar da ficção. O importante é que sempre teremos momentos como esses, quando nos lembrarmos das primeiras linhas. A carranca continuará sorrindo.
"P.S.: O professor apareceu sim, e deixou que eu ficasse com o DVD. Ele não foi abduzido. Uma pena. Seria uma boa história."