Há tempos escrevi um retrato de mim. Escrevi com linhas finas para que, como hoje, reescrevendo, engrossasse cada traço como as rugas em minha testa.
Um retrato é sempre perigoso, por vezes mudamos a posição corporal para não mostrarmos a nossa imperfeição e, na escrita, tal qual na tecnologia (nos valemos de recursos digitais para manipular a imagem) tendemos a escrever sobre nossas qualidades.
Vejo meu antigo retrato, feito à lápis, e hoje reconheço os traços que meu punho desenhou. Posso reescrevê-los com mais tonicidade, posso apagar algumas linhas. Sou como você me vê, já dizia Clarice, sou mais ainda como me vejo.
Disso não me orgulho. Minha visão ainda é cheia de pré conceitos e baixa estima. Um dia a gente aprende a eliminá-los.
Por ora, meu retrato fica como a técnica pin-hole, imóvel diante da lata, uma imagem ainda em construção.
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